segunda-feira, 4 de abril de 2011

BIOÉTICA



Para Aristóteles, na biologia (ciências naturais) é possível não só a teoria pura, mas também uma episkepsis: uma investigação que intervém no seu objeto e cujas partes (sangue, carne, osso, etc.) ele toma mais exatamente diante dos olhos através da dissecação.

ANTES MESMO, ALGUNS ARTISTAS DA RENASCENÇA JÁ DESPOJAVAM DE EXPERIMENTOS E VIVISECÇÕES, PARA MELHOR COMPREENDER A ANATOMIA HUMANA E TRANSPOR A ARTE ACIMA DA VIDA.

A história do espantoso progresso científico humano, especialmente a partir da Revolução Industrial no século XVIII, não é marcada apenas pelos triunfos pontuais do homem sobre a força brutal da natureza ou pela apreensão intelectual das leis físicas e químicas que regem o universo, para posterior aplicação técnica.

Frankenstein (Mary Shelley)

romance gótico   
[...] têm um pé na ficção científica, utilizando muitos dos seus aparatos
exteriores (cenários, personagens, artefatos) mas que se recusam a lidar com
a lógica, a verossimilhança e a plausibilidade científica que os adeptos de
ficção científica usam [...] Na ciência gótica, a parafernália tecnológica e a
pseudo-racionalização materialista estão a serviço de situações bizarras,
grotescas, impressionantes. (TAVARES, 2003, p.15)
O exemplo clássico dessa forma literária, como aponta Tavares, é o próprio romance Frankenstein, por representar um divisor de águas na Literatura Gótica ao apresentar a ciência como um elemento causador da mesma angústia e inquietação antes exclusivamente gerada pelo sobrenatural.
CONTRIBUIÇÃO DO NAZISMO

PARA A CIÊNCIA E SUA FALTA DE ÉTICA


OS DOUTORES DA AGONIA

Eles utilizaram humanos como cobaias de pesquisas macabras. Agora estudos dizem que essas experiências guardam informações valiosas para a humanidade.

Os cientistas envolvidos no projeto científico-militar alemão eram de primeira linha. Fritz Haber, por exemplo, foi responsável por uma descoberta que não só permitiu à Alemanha prolongar a 1ª Guerra, mas hoje nos permite produzir alimentos para 6 bilhões de pessoas: a técnica de fixação da amônia a partir do nitrogênio do ar serviu tanto à criação de explosivos quanto ao desenvolvimento de fertilizantes baratos.

Otto Hahn, outro ganhador do Nobel que liderou um ataque com gás, foi um dos descobridores do processo de fissão nuclear, usado em bombas atômicas e em usinas nucleares. “O Exército alemão se convenceu de que a ciência desenvolveria armas superiores, que compensariam as restrições à produção de armamentos impostas pelo Tratado de Versalhes”.

Médicos como Hirt e Hallervorden Encomendou 115 prisioneiros a Auschwitz, que foram prontamente executados. Em agosto, recebeu mais 80 cadáveres para estudos sobre a superioridade anatômica do povo ariano.
Hallervorden formou uma coleção que, em 1944, contava com 697 cérebros.
Hallervorden formou uma coleção que, em 1944, contava com 697 cérebros.
Sigmund Rascher, responsável pelo campo de concentração de Dachau: usar cobaias humanas vivas. “Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana, porque faço experiências em homens e não em ratos”, dizia.


1. Auschwitz-Birkenau (abril de 1940 a janeiro de 1945)
Número de mortos - 1,1 milhão a 1,5 milhão.
Experiências - Pesquisas com gêmeos e anões; infecção com bactérias e vírus; eletrochoque; esterilização; remoção de partes de órgãos; ingestão de veneno; criação de feridas para testar novos medicamentos; operações e amputações desnecessárias.
2. Buchenwald (julho de 1937 a abril de 1945)
Número de mortos - 56 mil.
Experiências - Operações e amputações desnecessárias; contaminação com febre amarela, cólera e tuberculose; ingestão de comida envenenada; queimaduras com bombas incendiárias.
3. Ravensbrück (maio de 1939 a abril de 1945)
Número de mortos - Mínimo de 90 mil.
Experiências - Pesquisas fisiológicas, com remoção e transplante de nervos, músculos e ossos; esterilização; fuzilamento com balas envenenadas.
4. Dachau (março de 1933 a abril de 1945)
Número de mortos - Mínimo de 30 mil.
Experiências - Testes de hipotermia com exposição ao frio; câmeras de baixa pressão; infecção com vírus da malária; privação de líquidos com ingestão de água salgada.
5. Sachsenhausen (julho de 1936 a abril de 1945)
Número de mortos - 100 mil.
Experiências - Inalação e ingestão de gás mostarda; infecção forçada pelo vírus da hepatite; fuzilamento com munição envenenada.
6. Natzweiller-Struthof (maio de 1941 a setembro de 1944)
Número de mortos - 25 mil.
Experiências - Utilização de prisioneiros como “viveiros” de bactérias e vírus como os do tifo, varíola, febre amarela, cólera e difteria.

Sob a influência de diversas atrocidades ocorridas no contesto histórico da época a literatura se manifesta com a história do Dr. Henry Jekyll -1948.
Um renomado Dr Henry Jekyll quer separar os aspectos benéficos e maléficos da natureza humana. Por meio de uma droga desenvolvida secretamente por ele em seu laboratório, ele consegue liberar seu lado mal incorporado na forma de Mr Hyde.
  
 Código de Noremberg

Surgido ao final da II Guerra Mundial 1947, quando o Tribunal Militar Internacional processou criminosos de guerra nazistas, incluindo médicos nazistas que haviam realizado experimentos em prisioneiros nos campos de concentração.
O código clarificou muitos dos princípios básicos que regem a conduta ética em pesquisas. A primeira cláusula do documento aponta para o fato de que "o consentimento informado do sujeito humano é absolutamente essencial". O código aborda ainda outros detalhes implícitos em tal exigência:

- capacidade para consentir
- liberdade de coerção
- compreensão dos riscos e benefícios envolvidos

Outros preceitos requerem: a minimização de riscos e danos, um balanço risco-benefício favorável, que os pesquisadores sejam qualificados e utilizem delineamentos/desenhos apropriados para pesquisa e, ainda, a liberdade do participante para desistir a qualquer momento.

O código não menciona, especificamente, pesquisas clínicas realizadas em pacientes portadores de doenças, um descuido que foi suprido em códigos e regulamentos mais recentes.

A questão dos direitos dos animais e a sua utilização em pesquisas vem sendo discutida desde o século XVII. O filósofo Jeremy Bentham, em 1789, já questionava:
A questão não é podem eles raciocinar ?
Ou então, podem eles falar ?
Mas, podem eles sofrer ?
Claude Bernard, em 1865, também se pronunciou sobre este mesmo assunto:
"Nós temos o direito de fazer experimentos animais e vivisecção? Eu penso que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se reconhecessemos o direito de usar os animais para serviços caseiros e alimentação, mas proibir o seu uso para o ensino de uma das ciências mais úteis para a humanidade. Experimentos devem ser feitos tanto no homem quanto nos animais. Penso que os médicos já fazem muitos experimentos perigosos no homem, antes de estudá-los cuidadosamente nos animais. Eu não admito que seja moralmente aceitável testar remédios mais ou menos perigosos ou ativos em pacientes hospitalizados, sem primeiro experimentá-los em cães. Eu provarei, a seguir, que os resultados obtidos em animais podem ser todos conclusivos para o homem, quando nós sabemos como experimentar adequadamente. "
A pesquisa em animais deve ter como diretrizes mínimas:
a definição de objetivos legítimos;
a imposição de limites à dor e ao sofrimento;
a fiscalização de instalações e procedimentos;
a garantia de tratamento humanitário, e a responsabilização pública.

Relatório Warnock
A pesquisa em embriões humanos foi muito realizada nas décadas de 1960 e 1970 com o objetivo de disponibilizar técnicas de reprodução assistida.
No relatório Warnock, publicado em 1984 no Reino Unido para esclarecer as questões sobre reprodução e embriologia.
As novas pesquisas com céluas-mãe ou células tronco têm despertado grande debate, pois se utilizam de embriões para fins não-reprodutivos, apenas  como fonte de células totipotentes, visando a sua possível aplicação terapêutica.

O último ponto fundamental é a avaliação prévia por um Comitê de Ética em Pesquisa independente. Neste Comitê devem participar pesquisadores de reconhecida competência, além de representantes da comunidade. Deve ser garantida a participação de homens e mulheres. O Comitê deve avaliar os aspectos éticos do projeto de pesquisa assim como a integridade e a qualificação da equipe de pesquisadores.

A Bioética se realiza a partir de reflexões que assumem a complexidade, a interdisciplinaridade e o compartilhamento de idéias como características básicas. Este tema é por demais complexo para ser tratado apenas de forma emocional. Nesta situação não pode haver um lado vencedor e um lado perdedor, se assim for encarada a atual situação de deliberação pelo Supremo Tribunal Federal, a sociedade sairá perdendo.


1. É comum vivermos no meio de muitos pobres e miseráveis, sem o reconhecimento efetivo dos direitos fundamentais (vida, saúde, moradia, educação, saneamento básico etc.); é comum assistirmos e, talvez, contribuirmos para a o desrespeito à vida e a poluição do meio ambiente: mas tudo isso não é normal.
2. “Reto conhecimento, reta intenção, reta palavra, reta ação, reta vida, reto esforço, reto saber, reta meditação” [Buda] (Sermão de Benares).
3. “O homem, quando virtuoso, é o mais excelente dos animais, mas, separado da lei e da justiça, é o pior de todos” [Aristóteles ](Política, Livro I).
4. “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós mesmos a eles” [Mateus 7,12].
5. “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio” [Kant] (Fundamentação da metafísica dos costumes, 2ª seção).