terça-feira, 26 de abril de 2011

25 ANOS E O QUE APRENDEMOS?


ABRIL DE 2011, UCRÂNIA


Em Abril de 1986, um técnico tentou corrigir uma falha num reator de uma usina nuclear da até então desconhecida cidadezinha ucraniana Chernobil. Sem querer, piorou ainda mais o problema. Explosões e incêndios levaram ao ar 100 vezes mais radiação que as duas bombas atômicas lançadas em 1945 no Japão.A nuvem radioativa atingiu a Europa. Hoje, Chernobil está isolada por um cordão de segurança.  Após o desastre, vários países entraram em debate sobre o futuro da utilização da energia nuclear,apenas demagogia.
Entre Pripiat, na Ucrânia, e Paris, há 1 999 quilômetros e um abismo mental. O vulto da usina de Chernobyl domina o horizonte de Pripiat, onde não restou um habitante. Lá, energia nuclear é sinônimo de morte. Depois da explosão do reator número 4, na madrugada fatídica de 26 de abril de 1986, a radiação varreu tudo. A cidade foi abandonada e a roda do parque de diversões que seria inaugurada na festa de 1° de maio nunca girou. O acidente inutilizou uma área equivalente a um Portugal e meio, 140 000 quilômetros quadrados. Por centenas de anos.
A Europa despertou como se estivesse em um pesadelo. Itália, Alemanha, Suécia, Finlândia, Suíça, Holanda e Espanha deram marcha a ré nos programas nucleares e fecharam usinas. Para eles, o risco de um acidente igual era insuportável. Mas há usinas precárias nos antigos países socialistas que ainda ameaçam toda a vizinhança européia.
A solução, então, é fechar tudo? Se depender do Canadá, do Japão ou da França, onde reator nuclear é sinônimo de progresso, a resposta é não. Os franceses passam muito bem e 75% da energia no país vêm do átomo. Exportam usinas, reprocessam urânio, armazenam lixo radioativo e têm dois reatores de última geração. Tudo com aprovação das pesquisas de opinião pública. “Virar as costas para o átomo é burrice”, diz Jean Paul Chaussade, diretor de comunicação científica da Electricité de France (EDF). “O petróleo e o gás vão se esgotar em quarenta anos. Os combustíveis fósseis poluem mais e o impacto ambiental das hidroelétricas é muito maior. A alternativa atômica é cada vez mais barata e segura”. Hoje, entre Pripiat e Paris, o futuro balança. Virando a página, você vai saber por quê.


Saldo controverso

Foi isso o que aconteceu em Chernobyl. Ao ser detectado o mal funcionamento, a máquina foi desligada, mas a anomalia fez com que, em dez segundos, a potência da central fosse multiplicada cem vezes, provocando a explosão. Em contato com o ar, o urânio pegou fogo. Toneladas de partículas – 140 exatamente – foram liberadas no ambiente. Uma nuvem sinistra de radioatividade atravessou a Europa.
Até hoje, o saldo é controverso. A Greenpeace fala em 60 000 mortos a longo prazo. O Instituto de Radiologia de Kiev admite 31 mortos e 50 000 contaminados. Um estudo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico indica que a incidência de câncer na tiróide na área de Chernobyl aumentou mais de cem vezes. Por tudo isso, como diz Chassaude, “o ideal seria parar os VVER de primeira geração e todos os RBMK”.

Países como a Eslováquia melhoraram a segurança das centrais. Mas outros, como a Bulgária e a Ucrânia, por incrível que pareça, barganham para conseguir mais recursos financeiros – uma espécie de chantagem com o próprio risco. Em abril de 1996, a Ucrânia recebeu dos sete países mais desenvolvidos do mundo uma proposta de 2,3 bilhões de dólares para fechar os reatores ativos de Chernobyl. Alegou que teria de compensar a perda importando eletricidade e pediu 5 bilhões de dólares. Não houve negócio. Será difícil esquecer Chernobyl.

Local virou atração turística


Em meio a lagos, terra arenosa e florestas nas estepes ao norte de Kiev, fica Chernobil, que adquiriu notoriedade internacional quando, no dia 26 de abril de 1986, técnicos fizeram uma experiência com um dos quatro reatores de energia nuclear ali instalados. Ele sofreu uma catastrófica explosão de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um derretimento nuclear. Sem um recipiente de contenção, o conteúdo radioativo foi carregado pelo ar sobre grandes porções da Europa, causando um pânico internacional. Hoje, há uma área de exclusão de 30 km em torno de Chernobil, o que não impede a visita contante de turistas - numa modalidade algo mórbida de passeio.

No período imediamente após a explosão, foram mortos 31 trabalhadores da usina, e milhares de outras pessoas que viviam na região que hoje faz parte da Ucrânia e da Bielorússia receberam doses que radiação que encurtaram suas vidas. Cientistas divergem sobre o número de mortos. A Organização Mundial de saúde afirma que foram 4 mil. Os números do Greenpeace, que parecem notavelmente exagerados, falam em 200 mil.  

Níveis significativos de césio 137, estrôncio 90 e isótopos de plutônio ainda poluem o solo local. Em uma zona conhecida como Floresta Vermelha, chegou a um nível 20 vezes mais alto que o da contaminação de Hiroshima e Nagasaki, o que ainda é muito perigoso. 

A explosão de Chernobil foi o pior acidente nuclear do mundo, e é o único classificado no nível sete da Escala Internacional de Eventos Nucleares. Os 25 anos do acidente, no mês que vem, certamente ganharão uma ressonância dramática, depois dos incêndios nos reatores de Fukushima, que ressuscitaram temores de que o pânico nuclear tome o planeta mais uma vez-  embora o evento no Japão tenha sido classificado no nível cinco da escala. 

Há um vasto lago artificial perto da usina principal, que fornecia água para esfriar os reatores. Ela hoje está congelada, mas quando o complexo funcionava, estava morna durante todo o tempo. Com o crescimento de líquen na água, o lagofoi povoada de peixes que se alimentava dele, o que mantinha a água limpa. Depois da explosão, o lago foi banhado por resíduos radioativos, que se depositaram em seu fundo. Hoje, bombas trazem água constantemente do rio Pripyat, na vizinhança, para impedir a evaporação do lago e a exposição de seus sedimentos tóxicos, que podem secar e ser espalhados pelo vento.  

E é a cidade de Pripyat que traz as recordações mais perturbadoras. Ela foi construída para alojar as famílias dos trabalhadores das usinas. Lá moravam 50 mil pessoas. O reator 4 explodiu nas primeiras horas do dia 26 de abril, mas elas não foram informadas. Durante todo aquele dia, as crianças puderam brincar fora de casa, apesar dos rolos de fumaça radioativa a poucos quilômetros de distância. Havia rumores de um incêndio, mas pessoas haviam sido doutrinadas a acreditar que um acidente em um reator era impossível - até que chegasse uma frota de ônibus de tarde para tirar os moradores de lá. Disseram que poderiam retornar em alguns dias. Eles nunca voltaram. 

O custo do desastre teve enorme impacto nos orçamentos da Ucrânia e Bielorússia. Em 1998, a Ucrânia disse que já tinha gasto U$ 130 bilhões com a limpeza do local, e a Bielorrúsia, outros U$ 35 bilhões. Cientistas afirmam que a radiação afetará a área pelos próximos 48 mil anos, embora daqui a 600 anos  seja seguro repovoá-la com seres humanos, relata o Guardian. 
Soprando as velas do bolo 4 meses antes


Após um terremoto seguido por tsunami, a usina de Fukushima no Japão, com tecnologia de sobra para ataques terroristas, abalos sísmicos, e tantas outras soberbas humanas, a natureza mostrou sua fúria sobre a ilha. A  usina nuclear com toda sua segurança não resistiu, os núcleos dos reatores pararam de ser resfriados, superaquecimento, descontrole, 3 reatores em colapso, estava montado o espetáculo para mais uma tragédia mundial, após 25 anos qual lição levamos de Chernobil?
O Japão com sua arrogância tecnológica subestimou a tecnologia nuclear como muitos países fazem, e agora paga um preço muito caro.
Os níveis de radioatividade liberados na atmosfera estariam muito além das estimativas do governo japonês, chegando a comprometer novas tentativas de controlar a situação. No pior dos casos, segundo a análise de especialistas norte-americanos, os trabalhadores seriam forçados a abandonar o local, deixando o conjunto de reatores para derreter sozinho, levando a um vazamento e à contaminação de terras, águas e da atmosfera por radioatividade. Os níveis máximos de radioatividade liberados durante a crise já são suficientes para provocar a morte em um período relativamente curto de tempo. A tentativa de resfriar os reatores jogando água a partir de helicópteros foi suspensa nesta quarta-feira por medo de que as tripulações fossem afetadas pela radiação. A usina está próxima à cidade de Sendai, com cerca de um milhão de habitantes. O desastre no Japão tem o potencial de ser seis vezes pior do que o ocorrido em Chernobil na década de 1980, onde havia apenas um reator. Em Tokio, a cerca de 240 quilômetros de distância, os níveis de radioatividade atmosférica se elevaram, provocando um êxodo em massa da população. A província de Ibaraki, ao Sul de Fukushima, já registra um aumento de 30 vezes na quantidade de radiação atmosférica de fundo.
À medida que o tempo passa, os esforços para evitar o derretimento dos núcleos armazenados nos reatores de Daiichi parecem mais e mais ineficazes. A perda de controle do governo sobre a situação pode levar a uma catástrofe nuclear de proporções inéditas provocada, em primeiro lugar, pela irresponsabilidade do governo japonês, que negou recursos na manutenção dos reatores por anos e da administração da Compahia de Energia Elétrica de Tokio (TEPCO) que administra a usina em Fukushima e, no passado, já havia prestado informações falsas ao governo sobre a segurança de suas instalações. A reação em cadeia na usina de Daiichi comprova como um recurso poderoso como a energia nuclear pode se transformar em uma arma letal sob o regime capitalista.



fonte: planetasustentavel
             super.abril




Para saber mais

Nuclear Power Reactors in the World, IAEA, Viena, 1996.
Tchernobyl, Dix ans Déjà, AEN-OCDE, Paris, 1996.
Our Radioactive Legacy, Greenpeace, London, 1996.
O que é Política Nuclear, Ricardo Arnt, São Paulo, Brasiliense, 1983.
Agência Internacional de Energia Atômica (Viena) http//www.iaea.or.at

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